quarta-feira, 13 de maio de 2009

A POÉTICA DE LAÉRCIO REDONDO

Existe o artista que trabalha com o distanciamento, torna sua obra repleta de qualidades, mas consegue isso cuidando para que algo da vida pessoal não entre em seu trabalho, ou pelo menos não transpareça, que fique apenas intrínseco. Contrapondo-se a essa poética, há o artista que explicita as suas experiências de vida colocando-as em seus trabalhos. Deixa claro nesses, a auto-referência como base no processo criativo. A poética de Laércio Redondo encontra-se plenamente sintonizada com a qualidade auto-referencial, mas considera que na sua obra em videoarte, videoinstalação, e instalação, existe a abertura para o espectador trazer suas experiências, proporciona ao público trazer algo de si para o trabalho, ajudando-o a ser construído. O artista faz uma proposição e deixa para o espectador a tarefa de fazer as coisas acontecerem, mas mesmo dentro dessa proposição artística, Laércio conscientemente deixa transparecer, com uma delicadeza inexorável, algo de si, que diz respeito a sua vida pessoal, em cada um dos trabalhos, especialmente nos atuais.
Dos sete trabalhos analisados no capítulo anterior, os que trazem essa qualidade de “o que é meu que entrego para você” (espectador), são as videoinstalações e videoarte: “I don’t love you anymore”, “Kidnapping Images”, “After Venice”, “Estrangeiro/Stranger” e Dis-cursus. Nesses, Laércio oferece ao espectador, pelo viés da eletrônica, utilizando técnicas de vídeo, e criando ambientações interativas, tentativas qualitativamente artísticas. Comentando, nessa entrega, seus sentimentos e experiências, que são comuns a todos os seres humanos. Ele fala da perda, ruptura, saudade, encontro, alegria, tristeza, precariedade, mutabilidade, erro, acerto, troca, etc. Comenta-os criando para isso uma atmosfera poética, para posteriormente tocar em questões muito mais sensíveis, filosóficas, como o conceito de tempo, os tempos cronológicos, psicológicos, do artista e de cada uma das pessoas envolvidas nos processos, familiares ou não, e especialmente o público. Ao tocar naquele ponto delicado imediatamente a necessidade de melhor compreensão do conceito dialético de tempo e espaço é estimulada, transformando de fato os seus trabalhos em potentes canais de expansão das consciências.
A necessidade de maior expressão de seus sentimentos e idéias, fez com que o artista, em um dado momento, desse um salto qualitativo na expressividade da sua obra. A aproximação e encantamento de Laércio para com a videoarte inserindo-as em instalações, em ambientes significantes, proporcionou a expansão da representação e compreensão do espaço, para além da fronteira bidimensional da pintura e do desenho. O conceito de espaço que está contido na poética que envolve o suporte bidimensional tornou-se insatisfatório para um avanço qualitativo na suas proposições artísticas, a partir do seu envolvimento com a arte tecnológica.
Constata-se nos trabalhos “I don’t love you anymore”, After Venice, Kidnapping Images e Dis-cursus”, uma intencionalidade de busca da expansão não apenas daquele conceito, mas especialmente da sua vivência. Nesses trabalhos, que num primeiro momento nos remetem apenas a simples projeções ou apresentações de videoarte em ambientes públicos, numa observação mais apurada, elucidam a intenção de oferecer ao espectador, possibilidades de sentirem-se inteiros, uma presença realmente especial em um determinado espaço, dialogando com imagens eletrônicas, visualizando-as em dimensões variadas. Considero que a poética da videoinstalação evidencia-se, mesmo nos trabalhos que nos parecem simples videoartes. Em todos os trabalhos de Laércio Redondo analisados nessa pesquisa, a tomada de consciência, por parte do espectador, não somente dos sentimentos comentados e estimulados, mas também da própria presença, do ser e estar em um espaço oferecido, é o verdadeiro alvo, no qual sentimos, a pulsão da arte.
Na videoinstalação “Listen To Me” e na instalação “Hotel Solidão”, além de todas as qualidades citadas acima, Laércio propõe a interatividade. São trabalhos, nos quais a questão da auto-referência torna-se menos relevante. O artista cria condições para que o público dê alma ao trabalho, invente novas situações, entregando emoções e sentimentos. Estabelece algumas regras e o restante fica por conta da inspiração e da liberdade do espectador. Nesses dois trabalhos observa-se uma quase anulação do artista, e do conceito de “obra de arte” pronta. O que se vê é uma proposição, na qual pessoas comuns trocam entre si todos aqueles valores e sentimentos que estruturam toda poética do artista. O requinte dessa encontra-se na valorização de sentimentos e vivências pessoais, os quais procura trocar com, e estimular em outras pessoas, utilizando para realização dessa intenção, o canal artístico. Nos trabalhos de Laércio observa-se um caminhar pelos meios tecnológicos que se inicia na videoarte passando posteriormente para as videoinstalações e expandindo-se, a partir dessas, para a poética da interatividade.

Tópico da minha monografia de conclusão de curso de Pós-graduação em História da Arte do Século XX - EMBAP 2004. Título da Monografia "A Sensibilidade eletrônica na Videoarte e Videoinstalações de Laércio Redondo"
A Monografia na íntegra encontra-se nas bibliotecas da EMBAP.


Discursus

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Nuances do livre



Voltado para o meu centro. Não necessito mais, na superfície, do centro do outro(a).
Estou por minha conta e risco, não dependo de ninguém, livre para ir e voltar, mesmo em círculos.
Se no meu caminho aparecem amores, eu os amo, não me apego. Não tenho laços, portanto, sem nós.
Ando nu, embora tecidos, em simples elegância.
Mergulho no meu profundo, flutuo na superfície do mundo.